Publicado em 01/11/2016 às 10h15.

Crivella, o novo fantasma da esquerda. Ele assusta mesmo?

Imaginar que o novo prefeito eleito do Rio é a luz que vai iluminar o Brasil para impor um consenso teocrático talvez tenha boa dose de lucubração

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“Quando o cristianismo se converte em instrumento do nacionalismo, fica ferido em seu coração e se converte em estéril”

Papa João Paulo II, o cardeal polonês Karol Wojtyła (1920-2005)

(Fernando Frazão/Agência Brasil)
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

 

“Política e religião não se discute”.

É evidente, óbvio ululante, que o velho adágio acima nunca foi cumprido. Muito pelo contrário, política e religião são os temas mais discutidos. E quando os dois se misturam, então, é nitroglicerina pura.

Os dois segmentos sempre se misturaram ao longo da história, chegando ao ápice quando a Igreja Católica firmou um imbricamento tal com o poder que tinha respaldo oficial para tocar fogo, literalmente, em quem julgava ser herege.

A ascensão de Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal, no Rio, suscita o velho fantasma. Estará ele de volta? Segundo os arautos da esquerda, sim.

De ponta a ponta do país, vozes se levantam para proclamar que Edir Macedo, o papa da Igreja Universal, tem um projeto de poder: tomar a Presidência da República e também o Judiciário. Crivella, no Rio, seria o início do processo, que no futuro incluiria a supressão de direitos hoje consolidados, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Enfim, instituir um Estado teocrático.

Crivella emerge no rastro do desencanto popular com os políticos tradicionais. No Rio, sinal dos tempos: Marcelo Freixo, do PSOL, de esquerda, a antítese do que o bispo defende, paradoxalmente teve apoio das classes mais ricas e letradas. Mas os índices de abstenção (26,85%) e brancos e nulos (15,9%) foram bem maiores do que os votos dos vencedores, indicador de que o povo não quer os extremos.

Imaginar que Crivella, do Rio, é a luz que vai iluminar o Brasil para impor um consenso teocrático talvez tenha boa dose de lucubração. Até porque, os evangélicos (hoje são 80 deputados federais, 14% a mais que na última legislatura) defendem princípios similares em nome do Cristo, mas quando se trata de poder político não são tão unidos assim.

Cada um tem o seu projeto. E a Universal de Edir Macedo é vista como inimiga pela grande maioria deles pela pretensão de tornar-se hegemônica, na religião e na política.

Fala Crivella

Palavras de Crivella assim que se elegeu:

— Aquele que se elege é apenas um representante de todos os que lutaram junto para que nosso projeto pudesse alcançar o coração dos nossos eleitores. 

Para alguns, reforça a tese do projeto de poder.

Fala Freixo

Palavras de Marcelo Freixo assim que perdeu:

— A esquerda brasileira vive agora o seu pior momento desde o fim da ditadura militar. É uma pena, mas pagamos o preço por tudo de ruim que aconteceu durante o ciclo do PT na Presidência da República, apesar de não termos feito parte daquele governo. Essa não é apenas uma questão carioca.

Ou seja, culpou o PT, que, com os seus desatinos, melou toda a esquerda.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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