De Ponta a Ponta – Resumo da semana
Mapa político de Serrinha, Pé de Serra, Campo Formoso, Tucano e Casa Nova
Serrinha, no nordeste da Bahia, a 173 km de Salvador, é conhecida pela sua vaquejada profana e pela devota Procissão do Fogaréu, caminhada de penitência que, na quinta-feira da Semana Santa, sai da Igreja de Nossa Senhora de Santana para o Morro de Santana, num percurso de quatro quilômetros, atraindo centenas de fiéis. Na cidade, a fé também preside a política e, para a eleição municipal de 2016, e, para sobreviver, os pré-candidatos devem ter fôlego de touro de vaquejada.
O deputado estadual Gika Lopes, o Gika, do PT, é um deles e aparece bem cotado na bolsa de apostas local para suceder o prefeito Osni Cardoso de Araújo, do mesmo partido. Ele disputa a indicação com outros dois pré-candidatos do PT: o secretário de Relações Institucionais, Edvaldo Teixeira, e o secretário de Administração, Jivaldo Oliveira. Ao seu favor, Gika conta com cabedal de 43.894 votos que o levaram à Assembleia Legislativa da Bahia. Mas, esse desempenho, por si só, não basta.
O principal concorrente da situação será o médico oftalmologista Adriano Lima (PMDB), filho do ex-prefeito Zé Valdo. Em 2012, Adriano perdeu a eleição para Osni, por quase 10 mil votos de diferença e agora quer ir à forra, apostando principalmente no desgaste do PT que ainda pode aumentar, a depender dos desdobramentos da Operação Lava Jato e, sobretudo, o desfecho do processo de impeachment de Dilma. Ainda em Serrinha, o vice-governador João Leão (da base aliada) lançou a pré-candidatura, pelo PP, do vereador Alexandro dos Reis Menezes, o Alex da Saúde.
Também querem disputar a eleição municipal o empresário Berg da Aragom (PRP) e Luciana (PSB). Em Serrinha, eleição é sempre assim: quem ganha comemora na vaquejada. Quem perder vai se penitenciar na Procissão do Fogaréu.
Em Pé de Serra – pequeno município do território Bacia do Jacuípe, a 222 km de Salvador – a morte do prefeito Hildefonso Vitório dos Santos (PT), o Defonso, ocorrida na sexta-feira da semana passada (11), em decorrência de complicações de um acidente vascular cerebral (AVC), colocou o candidato dele à sucessão no comando da prefeitura. Agora, em vez da eleição, o ex-vice Edgar Miranda (PP) vai disputar a reeleição com a caneta na mão para movimentar a máquina administrativa e tentar transformar ações em votos. O que, convenhamos, é um trunfo e tanto.
Porém, a pré-candidatura de Miranda é ameaçada por outros pré-candidatos do grupo de Defonso, como informa o site Calila Notícias: “Apesar da escolha de Edgar para encabeçar a chapa do grupo de Hildefonso em 2016, a disputa pela vaga de vice pode provocar dor de cabeça entre os aliados. No páreo, estariam os vereadores Agapito, Antônio de Pedro e Geovan Rios, mas observadores não descartam que o nome venha da oposição”. Nesse caso, Miranda, agora prefeito, terá tempo para ganhar musculatura própria e concorrer, selando o racha da turma do falecido Defonso.
Por enquanto, Miranda informa que pretende concluir obras deixadas pelo antecessor, como calçamento do loteamento do programa Minha Casa, Minha Vida, a arquibancada do campo de futebol e o palco fixo na praça principal da cidade.
Em 2012, Defonso foi reeleito com uma diferença de apenas 165 votos contra Antônio Joilson (DEM). No próximo ano, a eleição em Pé de Serra deve se polarizar novamente entre os herdeiros do espólio político de Defonso, salvo acidente de percurso, com Edgar Miranda à frente, e Antônio Joilson. A oposição tem ainda outro pré-candidato, Zé de Durval (PPS).
Além das esmeraldas, pelas quais é conhecida internacionalmente, Campo Formoso, no centro-norte da Bahia, é também pródiga em prefeitos. Somente nos últimos três anos, três alcaides se revezaram na prefeitura local. Isso sem contar o prefeito eleito em 2012, Adolfo Menezes (PSD), que, alvo de processo sob a acusação de fazer campanha fora do período determinado pela justiça eleitoral, decidiu não tomar posse com receio de, uma vez cassado, perder também o mandato de deputado estadual para o qual foi reeleito em 2014.
Com a decisão de Menezes, assumiu a prefeitura o vice, Eurico Soares, também do PSD. Ele foi afastado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e, em seu lugar, assumiu o presidente da Câmara, Elmo Nascimento, irmão do deputado federal Elmar Nascimento (DEM), maior adversário de Adolfo Menezes na política de Campo Formoso.
O terceiro prefeito a tomar posse foi o vereador Nagy Martins (PHS), que tomou o lugar de Elmar duas vezes, primeiro como presidente e, depois, no comando da administração municipal, com afastamento do primeiro.
A instabilidade institucional na cidade é tanta, que lá se costuma dizer que, quando se ouve o espocar de um foguete, é sinal de que algo de novo aconteceu na política. Entretanto, novidade é justamente o que falta nos quadros da política local, disputada entre três forças: uma liderada pelo deputado Adolfo Menezes (estadual), outra por Elmar Nascimento (federal) e a terceira pelo ex-deputado estadual Zé Santana, que foi prefeito por três vezes.
Para 2016, Menezes, que não será candidato, trabalha com uma solução doméstica e “mui caseira”: o nome da mulher, Denise, ou da irmã Rose Menezes. “Vou continuar trabalhando para que o candidato saia entre um dos dois nomes, Denise ou Rose”, admitiu o parlamentar ao site Campo Formoso Notícias. Zé Santana era aliado dos irmãos Nascimento, mas rompeu com eles e deverá ser candidato. Elmo Nascimento também. São os três caçadores das esmeraldas que alimentam as urnas: os votos.
Pelo nome, o município até parece um ninho do PSDB, mas Tucano, no nordeste da Bahia, a 256 km de Salvador, é, desde 2012, governado pelo PT do prefeito Igor Nunes, o Dr. Igor, candidato à reeleição no próximo ano. Em setembro de 2003, a cidade ganhou projeção nacional com um fato que entrou para o folclore da política baiana: o prefeito Arilton Dantas (PFL, legenda que deu origem ao DEM), foi acusado pelo Ministério Público de usar dinheiro para comprar três caixas de Viagra, medicamento utilizado para disfunção erétil.
Sobre o Viagra, Arilton Dantas garantiu (à época) que não precisava do produto, alegou que o dono da farmácia onde o lote de medicamentos foi adquirido se equivocou ao ler a lista encaminhada pela prefeitura, confundindo o anti-inflamatório Vioxx com o Viagra, depois cancelou a compra e determinou a abertura de sindicância para saber se houve falha de algum funcionário da prefeitura. Mas esse episódio são águas passadas que não movem mais os moinhos da política local, agora com a atenção voltada para a sucessão municipal de 2016, onde a pré-campanha já levanta a moral de alguns pré-candidatos que flertam com uma cobiçada senhora, a prefeitura local.
O primeiro, claro, é o prefeito Dr. Igor, candidato legítimo a lutar para permanecer no cargo. O filho do arisco Arilton Dantas, Arilton Júnior, o Ariltinho, é pré-candidato pelo PSD, mas um nome novo na política local vem ganhando força e ares de favorito para enfrentar o prefeito: o advogado e fazendeiro Luiz Sérgio Arantes, o Dr. Sérgio (PMDB), pré-candidato com o apoio do ex-prefeito José Rubens Arruda, o Rubinho. O maior problema de Dr. Sérgio é que, na cidade, ele é apontado como “um ilustre desconhecido”, já que atua em Salvador, porém, tem a seu favor “a força da grana”, como definiu um tucanense da gema.
Em Tucano, o Viagra agora é o banho revigorante na estância hidromineral de Caldas do Jorro que, para muitos tucanenses, “dá potência”.
Em Casa Nova, município do baixo-médio São Francisco, a 572 km de Salvador, o prefeito Wilson Freire Moreira, o Wilson Cota (PMDB), teve uma notícia boa e outra ruim para a sua pretensão de se candidatar à reeleição no próximo ano. Primeiro, a ruim: esta semana, o gestor teve rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), as contas relativas ao exercício fiscal de 2014, mas ainda cabe recursos. Agora, a notícia que fez Wilson Cota soltar foguetes: a prefeitura recebeu um reforço de caixa de R$ 100 milhões em cumprimento a um precatório (pagamento de dívida da União, dos estados ou municípios determinado pela Justiça) no valor de R$ 100 milhões. Dinheiro para gastar em obras em ano eleitoral.
Na cidade, embora haja 11 pré-candidatos a prefeito, apenas quatro são considerados competitivos: o prefeito atual, a ex-prefeita Dagmar Nogueira (DEM), Solon Xavier (PR), filho do ex-prefeito Orlando Xavier, o Orlandinho, e o vice-prefeito Maninho (PDT), que rompeu com Wilson Cota para tentar ser prefeito ao invés de vice. Há ainda quem coloque entre os “competitivos” Wilker Torres, do PSB. Em 2012, Wilson Cota venceu a eleição com 63,21% dos votos contra 36,79% de Orlando Xavier. Hoje, não é muito bem avaliado no município, mas tem a chave do cofre municipal, agora com um reforço de R$ 100 milhões, que podem fazer diferença em ano de eleição. Só depende da correta aplicação dos recursos.
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