Delator relata propina e compra de partidos: ‘Temer participava de tudo’
Transação com PR, PP, PCdoB, PRB, Pros e PSD custou R$ 104,5 milhões e seria para adquirir apoio e recursos para a campanha de 2014; Dilma acompanhava “mais distante”
O diretor de relações institucionais do grupo JBS, Ricardo Saud, um dos delatores da empresa no âmbito da Operação Lava Jato, revelou um esquema milionário de compra de partidos para a campanha presidencial de 2014, em vídeo divulgado nesta sexta-feira (19) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em depoimento, ele cita até distribuição de propina para o próprio presidente Michel Temer (PMDB-SP).
De acordo com o relato do executivo, em pelo menos dois momentos o peemedebista foi “agraciado” com a “mesada” da empresa. Aos procuradores da força-tarefa, ele citou um encontro em frente ao gabinete de Temer, em São Paulo, em que o próprio político pediu a entrega de R$ 1 milhão. “Ele me deu um papelzinho: ‘um milhão, quero que entregue’. Isso foi na porta do escritório dele, na calçada, só eu e ele na rua. Achava que o dinheiro era para o [José] Yunes [então seu assessor]”, cogitou.
O total de aporte da controladora da Friboi na disputa majoritária foi de aproximadamente R$ 300 milhões, segundo o delator. Parte teria sido dirigida pessoalmente a Temer. “Quando foi o pagamento dele, o PT não liberava o dinheiro, ele brigando por esse dinheiro, ele conseguiu R$ 15 milhões com o PT, do conta-corrente (sic)”, denunciou.
Conforme Saud, o apoio de seis legendas foi adquirido a mando do PT, como estratégia para barrar o crescimento do senador Aécio Neves (PSDB-MG), com o conhecimento dos candidatos, tanto a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) quanto o atual comandante da República, por meio de doações dissimuladas, dinheiro vivo e notas frias. “Não só compra de partidos para fortalecer a coligação, mas também recursos para a campanha da Dilma e Temer. Quero deixar bem claro que nunca foi sozinha a campanha da Dilma. Sempre foi Dilma e Temer, Dilma e Temer, até porque eu tinha uma proximidade muito maior com o Temer do que com a Dilma. Então, quase tudo o que eu fazia, não traindo o PT nem nada, mas eu levava ao conhecimento do presidente Temer”, aponta Saud.
O montante para a “aquisição” das legendas foi de R$ 104,5 milhões saídos de uma conta supostamente gerenciada pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e abastecida pelo tesoureiro petista na época, o também ex-ministro Edinho Silva. “Edinho trazia a demanda (pedido de propina) – tem bilhetes (provas) – e trazia para mim: ‘tem que depositar tanto aqui e tanto ali’. Da campanha inteira, nenhum era dinheiro lícito”, ressaltou. As siglas foram PR (R$ 36 milhões), PP (R$ 42 milhões), PCdoB (R$ 13 milhões), PRB (R$ 3 milhões), Pros (R$ 10,5 milhões) e PSD (R$ 21 milhões). “Esses partidos quem comprou foi a coligação PT-PMDB, Michel Temer e Dilma Rousseff, foram os dois que comandaram isso. Temer participava de tudo e Dilma mais distante”, reforçou o diretor.
Em detalhes, Ricardo Saud diz ter firmado o negócio diretamente com os presidentes das agremiações, como Eurípedes Júnior (Pros) e os senadores Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI). Há casos curiosos como o do PRB, em que Marcos Pereira transformou R$ 1 milhão da sua contribuição irregular em doação legal para o PV paulista, e do PCdoB, em que o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, solicitou que R$ 3 milhões fossem destinados diretamente ao deputado Orlando Silva. Já no PSD, aponta o delator, o ministro Gilberto Kassab utilizou R$ 5,5 milhões para uso pessoal, por meio de repasse para a empresa Yape Consultoria e Debates LTDA, de propriedade do seu irmão. “Kassab era quem tratava diretamente. Ele informou que estava negociando o partido com o PT e seria candidato a senador”, disse Saud.
Senadores do PMDB – De acordo com Ricardo Saud, R$ 36 milhões foram destinados pela cúpula da campanha do PT para “fidelizar” a bancada do próprio PMDB no Senado, que estaria “dividida”. Do “pacote” R$ 9,3 milhões teriam abastecido Renan Calheiros (AL), R$ 4 milhões para Valdir Raupp (RR), enquanto Eduardo Braga (PA), Jáder Barbalho (PA) e o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE), abocanharam R$ 6 milhões, cada.
A entrega, sem o conhecimento inicial de Temer, teria causado, inclusive, a sua volta ao comando do partido. “Ele pediu até três dias para ele se ‘movimentar’ e disse: ‘Como assim? O que está acontecendo? Não pode. Eu estou vendo que eu preciso reassumir o PMDB. Estão passando por cima de mim’. Pouco tempo depois, ele reassumiu no lugar de Valdir Raupp”, contou o executivo da JBS.
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