Publicado em 08/01/2016 às 15h20.

Executivo da OAS citado em investigação integrou governo Wagner

Manuel Ribeiro Filho foi titular da Secretaria de Desenvolvimento, em 2014. Também mencionado, Bruno Dauster faz parte do primeiro escalão do governador Rui Costa

Agência Estado

Executivos da empreiteira que aparecem nas trocas de mensagens envolvendo Jaques Wagner – em conteúdo avaliado como suspeito pelos investigadores da Operação Lava Jato – foram nomeados secretários de Estado no governo da Bahia. Um dos dois executivos mencionados chegou a trabalhar na Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) durante a gestão de Wagner.

Manuel Ribeiro Filho, ex-diretor da OAS na Bahia, assumiu a Sedur em janeiro de 2014 e se manteve na chefia da pasta até o fim daquele ano. Bruno Dauster, ex-diretor de desenvolvimento da OAS, foi empossado na Casa Civil em janeiro de 2015, quando o sucessor de Wagner, Rui Costa (PT), assumiu o governo da Bahia, e se mantém até hoje na chefia da pasta.

Na gestão Wagner, antes de assumir a função de secretário, Dauster foi chefe de gabinete da Casa Civil no Estado. A assessoria de imprensa do governo da Bahia ressaltou que Dauster não era mais executivo da OAS quando assumiu o cargo.

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Manuel Ribeiro Filho, ex-titular da Secretaria de Desenvolvimento do Estado (Divulgação)

As mensagens de texto dos aparelhos apreendidos envolvem Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS condenado a 16 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema na Petrobrás.

Metrô – Em troca de mensagens entre números não identificados até o momento, obtidas por meio da interceptação de diálogos do celular de Léo Pinheiro, há texto em que Dauster é citado como alguém que “sabia tudo de metrô”, em possível referência às obras no metrô de Salvador. “Para sua informação tanto JW quanto Rui Costa dizem que Bruno Dauster sabia de tudo do metrô e como é gente sua…Abc MK”, diz a mensagem.

Ribeiro Filho é um dos executivos que aparecem em troca de mensagens com Pinheiro sobre o apoio à candidatura do petista Nelson Pellegrino à prefeitura de Salvador, em 2012. No final daquele ano, antes do segundo turno das eleições, Ribeiro se afastou da construtora, onde trabalhava como diretor operacional. O afastamento, segundo ele, ocorreu por motivo de saúde. “Passei por uma quarentena antes de ir para o governo”, disse.

Durante sua gestão na secretaria, Manuel Ribeiro foi um dos principais defensores da construção de uma ponte entre Salvador e a ilha de Itaparica, obra de interesse da OAS, uma das construtoras que desenvolveram o projeto. Ele é irmão do escritor João Ubaldo Ribeiro, morto em 2014, que era morador da ilha. Os dois se desentenderam por causa do projeto, orçado inicialmente em R$ 5,7 bilhões e cujo custo chegou a R$ 7 bilhões. Prometida para 2013, a ponte não saiu do papel.

Campanha – Manuel Ribeiro Filho disse que os valores citados nas mensagens reunidas na investigação se referem a negociações para doações eleitorais legais. “Aquilo ali está bastante claro que era uma coisa de campanha eleitoral. Provavelmente alguém pediu a doação e, como Léo não podia vir aqui (a Salvador), deve ter passado para que a gente discutisse, mas eu não me lembro nem de ter discutido esse assunto”, disse ele.

Ribeiro disse que a “figura” citada na transcrição não é o então governador Jaques Wagner. “Não sei quem era”, disse. Segundo ele, a discussão com Wagner se restringiu a uma “relação institucional”, e que nunca negociou com o governador o pagamento para que Mário Kertész declarasse apoio ao então candidato petista Nelson Pelegrino.

“Na realidade, você pega a conversa mas não pega o resultado. Ali não se tem o resultado se foi realmente pago. Eu não sei se foi pago”, disse.

Dauster afirmou, via assessoria de imprensa da Secretaria da Casa Civil da Bahia, que não se recorda das conversas relatadas pela reportagem e disse que elas estão fora de contexto. Ele informou que, em 2013, data das mensagens, já estava na Casa Civil e afirmou não fazer sentido levantar qualquer dúvida em relação à licitação do metrô de Salvador porque a OAS perdeu a concorrência.

Durante o período em que Wagner e Costa estiveram no comando do governo baiano, a OAS foi responsável por inúmeras obras de infraestrutura e revitalização no Estado. A Via Expressa Bahia de Todos os Santos, por exemplo, é considerada a maior intervenção viária em Salvador dos últimos 30 anos. A obra custou R$ 480 milhões, foi inaugurada em 2013 e levou quatro anos para ficar pronta.

Outra obra tocada pela OAS, ainda não concluída, para revitalizar a orla da capital baiana já custou R$ 179,4 milhões ao Estado. Os dados são do portal da transparência do governo da Bahia. O projeto foi feito para ser entregue antes da Copa do Mundo, mas ainda não está pronto. A assessoria de imprensa do governo, no entanto, afirma que não existe nem existiu obra de revitalização da orla de Salvador tocada pela OAS durante o governo Wagner.

A OAS integrou ainda, junto com a Odebrecht, outra empresa citada na Lava Jato, o consórcio Fonte Nova Participações, responsável pela reconstrução da Arena Fonte Nova. Em maio de 2015, após entrar em recuperação judicial por causa dos prejuízos causados pela Lava Jato, a empresa colocou à venda os 50% da participação que tem no empreendimento.

2010 – Doações da OAS mostram que a ligação entre Wagner e Pinheiro data pelo menos de 2010. Segundo a prestação de contas disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral, Wagner recebeu naquele ano R$ 1,5 milhão diretamente da empreiteira para a campanha de reeleição ao governo da Bahia. Rui Costa (PT-BA), aliado de Wagner e sucessor dele no cargo, também teve o apoio indireto da empresa nas eleições de 2014. Os diretórios nacional e estadual do PT repassaram à campanha dele R$ 4,2 milhões, doados pela OAS.

A defesa da OAS disse à reportagem que não se manifestaria. Jaques Wagner disse em nota estar “à disposição do Ministério Público e demais órgãos competentes para quaisquer esclarecimentos”. Ele negou irregularidades na relação com Léo Pinheiro.

Na nota, o ministro manifestou “repúdio à reiterada prática de vazamentos de informações preliminares e inconsistentes, que não contribuem para andamento das apurações e do devido processo legal”.

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