Publicado em 11/07/2016 às 21h30.

‘Mas tem de ser em segredo’, diz Cunha a presidente da Gutierrez

A Polícia Federal encontrou nos celulares do ex-presidente da Andrade Gutierrez vários diálogos com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha

Hieros Vasconcelos

 

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

 

A Polícia Federal encontrou nos celulares do segundo maior empreiteiro do País pego na Operação Lava Jato e que fechou acordo de delação premiada, o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, vários diálogos com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em um deles, de 1º de abril de 2014, chamou a atenção dos investigadores o fato de Cunha confirmar a Otávio que atendeu a uma demanda da CNO (sigla para Construtora Norberto Odebrecht) para modificar um trecho de um projeto de lei “em segredo”.

Confira o trecho do diálogo abaixo:

Otávio Marques: “Eduardo, estas modificações propostas pela CNO estão aceitas pelo Governo e a Câmara?
(1) não aplicação expressa do parágrafo 2º do art83 ao regime especial do parágrafo 10º do art 83;
(2) supressão do parágrafo 8º do art. 74,
Soube por eles: O ponto (1) acima estará alinhado entre o relator e a Fazenda, mas gostaria de assegurar que é isso mesmo!
Abs”

Eduardo Cunha: “Esse ponto 1 eu acertei, mas tem de ser em segredo. O segundo não”

O relatório da PF não deixa claro qual o projeto de lei que os dois discutiram, mas reforça as suspeitas levantadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que o peemedebista atuava como “longa manus” das empreiteiras no Congresso. Uma das linhas de investigação contra Eduardo Cunha no STF é justamente sobre a suposta atuação do peemedebista para fazer lobby e cobrar recursos de empresas em diferentes projetos de leis e medidas em tramitação no Congresso.

Os investigadores também localizaram outros diálogos entre Cunha e o empreiteiro. Em um deles, ocorrido em setembro de 2011, o parlamentar conversa com Otávio sobre o envio de um “material”, que a conversa não deixa claro. Em outro diálogo, de fevereiro de 2014, os dois marcam um encontro na residência de Otávio Azevedo.

Atualmente, o ex-presidente da Câmara já é réu em duas ações penais acusado de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão fiscal e fraude eleitoral por supostamente ter recebido propinas em contratos de navios-sonda da Petrobras e também por ter mantido o dinheiro das propinas em contas secretas e offshores na Suíça.

Além disso, ele é alvo de uma terceira denúncia, que ainda será analisada pelo Supremo, acusado de receber propinas em um esquema de corrupção envolvendo empresas que receberam financiamentos do fundo de investimentos do FGTS (FI-FGTS), que seria controlado pelo peemedebista por meio de seu afilhado nomeado vice-presidente da Caixa Fabio Cleto.

Com o avanço da Lava Jato ele deixou o cargo no banco estatal, acabou fechando um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal e detalhou o esquema de corrupção comandado por Cunha que, segundo o delator, teria recebido propinas em 12 projetos de empresas financiados pelo fundo. O lobista e amigo próximo de Cunha Lúcio Funaro, que também compunha o esquema ajudando a cobrar a propina das empresas, foi preso recentemente pelo Supremo e negocia um acordo de delação premiada.

Defesa – A Andrade Gutierrez informou que “mantém o compromisso de colaborar com a Justiça. Além disto, tem feito propostas concretas para dar mais transparência e eficiência nas relações entre setores público e privado.”

 

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