Suplente de Kannário é cunhado de deputado do PSL; governo quer vaga
Objetivo é não só atacar o político-pagodeiro, como aproveitar a revolta de vereadores da base do prefeito ACM Neto como gancho para atingi-lo e enfraquecê-lo em 2018
O primeiro suplente da coligação PHS/PTdoB, Fábio Souza, já tem mantido contato com a base aliada do governador Rui Costa (PT) para discutir a possibilidade de assumir o mandato em uma eventual cassação de Igor Kannário.
Captador de atendimentos de saúde em comunidades carentes da cidade “sempre presente”, ele é cunhado do deputado estadual Alan Castro (PSL), integrante da ala da maioria na Assembleia Legislativa. Embora esteja no PHS, o auxiliar do médico-político é visto como um vetor de crescimento da oposição ao prefeito ACM Neto (DEM) na Câmara Municipal de Salvador, hoje com apenas 10 integrantes – número insuficiente para tomar o mandato (29 votos) –, motivo pelo qual o Palácio de Ondina tem derramado combustível na polêmica. Reuniões já foram mantidas entre o aspirante a herdeiro da cadeira do cantor, o parlamentar e a articulação política da gestão estadual para traçar as estratégias.
Além de ser integrante do mesmo PSL de Castro, o autor da representação no Ministério Público da Bahia (MP-BA), José Trindade, que sugere até a prisão do músico, lidera a trincheira contra o democrata, orientado passo a passo pela Governadoria. O objetivo da barricada é não só atacar Kannário, como aproveitar a revolta de edis do grupo de Neto como gancho para atingi-lo, desgastá-lo e enfraquecê-lo para a disputa de 2018.
A avaliação na própria base do prefeito é de que a situação, além da convulsão de vereadores aliados, gerou mal-estar e preocupação com o que virá. “Ele tem falado o que quer. Recebe dinheiro da prefeitura para tocar [R$ 120 mil para três apresentações na Barra, na Liberdade e no Campo Grande] e ainda fala mal da galera. Ninguém ‘comeu’ a desculpa dele. O clima está ruim e base está enciumada porque o prefeito tem dado muita atenção a ele. Pela primeira vez, acho que a Comissão de Ética e a Corregedoria vão funcionar”, confessou um legislador muito próximo a ACM Neto, em conversa com o bahia.ba, ao apontar que fiéis seguidores não são sequer recebidos no gabinete.
“O que preocupa é que ele fez tudo isso, de se ausentar da Câmara, de arranhar a imagem da Casa por faltar aos trabalhos, colocar acusado de estupro em cima do trio e ainda ofender os vereadores, em apenas dois meses de mandato. Eu, particularmente, acho que esse problema do carnaval passa. E os próximos três anos e 10 meses, o que mais ele vai aprontar?”, complementou outro, ao citar que até mesmo o projeto que autoriza os legisladores municipais a ocupar cargos federais – a exemplo de Paulo Câmara (PSDB) – precisou do voto do independente Edvaldo Brito (PSD), devido à frequente omissão do pagodeiro em plenário. “Pegou muito mal, nesse momento, Neto dar as costas a Kannário. Soltou ele aos leões e o apetite dos vereadores é insaciável”, sentenciou um terceiro.
Articulador da ida de Kannário ao PHS, Bruno Reis (PMDB) já foi escalado como uma espécie de bombeiro, a fim de tentar apaziguar os ânimos, minimizar os estragos e evitar o racha. Com o proposital descolamento de Neto da imagem do vereador (ainda aqui e aqui), é sobre o vice-prefeito que tem recaído a responsabilidade dos atos do artista. O peemedebista também foi incumbido da missão de inibir o ímpeto de secretários, como Cláudio Tinoco (Cultura e Turismo), cujo posicionamento, de que o discurso do Príncipe do Gueto foi “mentiroso e irresponsável”, foi visto como temerário no Palácio Thomé de Souza.
Do lado do PHS, o partido só irá se pronunciar na próxima semana, após uma reunião entre o presidente Câmara, Leo Prates (DEM), o líder do governo na Casa, Henrique Carballal (PV), e os comandantes estadual e municipal da sigla, Júnior Muniz e Alemão. O encontro está marcado para segunda-feira (6).
Outro lado – Em defesa de Igor Kannário, outro aliado do prefeito garante que qualquer decisão sobre o destino do vereador passa pela Praça Municipal, que detém 31 edis na Casa. Além disso, se houver acordo para uma cassação e Fábio Souza efetivamente assumir a cadeira, o PSL passaria a integrar a base aliada do democrata. O argumento é de que os deputados Manassés e Alan Castro foram os primeiros a apoiar a candidatura de Ângelo Coronel à presidência da AL-BA e que têm conversado com Neto. O motivo seria a base de eleitores dos parlamentares, que tentarão a reeleição e acreditariam que o apoio do gestor seria fundamental para ampliar ou manter os votos de ambos na capital (Castro obteve 32 mil em 2014, enquanto Manassés conquistou 25 mil). Os dois teriam solicitado o ingresso no DEM, mas a estratégia do Thomé de Souza é mantê-los no PSL para tirar o partido tanto do controle de Marcelo Nilo quanto do time de Rui.
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