Publicado em 11/12/2015 às 14h45.

‘Vidas Secas’ mira em servidores e políticos, diz delegado

Investigação apura as suspeitas de desvios de R$ 200 milhões em obras da transposição do Rio São Francisco

Agência Estado
Foto: Divulgação/ PF
Foto: Divulgação/ PF

O delegado Marcelo Diniz, superintendente da Polícia Federal em Pernambuco, sede da Operação Vidas Secas deflagrada nesta sexta-feira (11) diz que os próximos passos da investigação que apura as suspeitas de desvios de R$ 200 milhões em obras da transposição do Rio São Francisco pretendem avançar sobre funcionários públicos do Ministério da Integração Nacional, responsável pela obra, e até para eventuais políticos. Quatro empresários foram presos.

“Nós vamos passar para as analises do que está sendo buscado (nesta sexta-feira), todos os mandados de prisão foram cumpridos e queremos saber agora a participação de eventuais servidores públicos e eventuais políticos que estejam envolvidos na trama”, disse o delegado, em entrevista para explicar a operação.

Diniz fez um paralelo com a investigação Lava Jato e disse que a investigação da Vias Secas está na fase de apurar a atuação dos núcleos econômico, formado pelas empreiteiras e seus representantes, e dos operadores financeiros, formado neste caso pelos doleiros Alberto Youssef e Adir Assad, já condenados na Lava Jato e cujas empresas de fachada são utilizadas para lavagem de dinheiro.

A partir do rastreamento dessas movimentações financeiras suspeitas, a Polícia Federal pretende avançar sobre os núcleo administrativo, formado pelos funcionários públicos que teriam sido corrompidos para permitir os desvios e, eventualmente, o núcleo político, caso se comprove que houve o beneficiamento de políticos e partidos.

“O que podemos dizer até o momento é que empresas do grupo de Youssef receberam recursos de empreiteiras que tinham contrato com o Ministério da Integração e receberam recursos em uma conta específica (das obras da transposição) e dessa mesma conta foi mandado dinheiro para empresas fictícias de Youssef”, explicou.

“Isso foi dinheiro para o quê? Todo mundo já sabe, simplesmente para repassar esse dinheiro para circunstância A, B ou C”, continuou o delegado, deixando claro que ainda não há nenhum nome de político ou funcionário público investigado.

De forma semelhante, a Lava Jato começou apurando a atuação de um grupo de doleiros que lavava dinheiro para grandes empreiteiras, avançou sobre os contratos destas empresas com a Petrobras e, após várias etapas de investigação, delações premiadas e colaboração jurídica internacional alcançou deputados, senadores e ex-parlamentares que teriam recebido dinheiro do esquema na estatal petrolífera.

“Já temos claramente demonstrado isso (desvio de recursos via empresas de Youssef), agora a outra fase de identificar outros núcleos, principalmente o administrativo e o núcleo político. E tudo indica pelo contexto da participação que existem grandes possibilidades de que tenha havido isso (envolvimento de políticos), agora os nomes nós teremos que ter em um segundo momento”, contou Diniz.

Compartilhamento – A investigação deflagrada nesta manhã apura as suspeitas de desvio em um contrato de R$ 680 milhões do Ministério da Integração Nacional com o consórcio formado por OAS, Galvão Engenharia, Barbosa Mello e Coesa.

As investigações mostraram que essas empresas receberam verba do ministério para as obras e repassaram cerca de R$ 200 milhões para as empresas de fachada dos doleiros Alberto Youssef e Adir Assad, já condenados na Lava Jato por lavarem dinheiro e operarem o pagamento de propinas no esquema de corrupção na Petrobras.

Iniciada no ano passado, a operação partiu de informações do Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria-Geral da União (CGU). Após um compartilhamento de informações com a Operação Lava-Jato, a PF constatou uma movimentação de dinheiro do Ministério da Integração para contas das empreiteiras e, posteriormente, para empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef.

Defesas – Procuradas, as empreiteiras ainda não se manifestaram sobre a operação. O advogado Miguel Pereira Neto, que defende Adir Assad, disse que ainda não tomou conhecimento dos detalhes da investigação que deu base à operação da Polícia Federal. “Depois que tivermos acesso aos autos é que poderemos nos manifestar”, afirmou.

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