Ipea: Coronavírus mata mais na periferia do que em bairros nobres do Rio de Janeiro
Entre os motivos apontados pelo estudo, estão o menor acesso aos serviços de saúde e maior exposição ao risco da população residente em áreas de risco
A infecção pelo novo coronavírus mata mais na periferia do que em bairros nobres da cidade do Rio de Janeiro, de acordo com a nota técnica Aspectos Socioeconômicos da Covid-19: o que dizem os dados do município do Rio de Janeiro? do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo aponta, entre os motivos, o menor acesso aos serviços de saúde nessas áreas e a maior exposição ao risco da população residente nas áreas menos desenvolvidas da capital.
Entre a população jovem e adulta, com idades entre 30 e 59 anos, a Covid-19 mata até três vezes mais nos bairros menos desenvolvidos, considerando a taxa de mortalidade, ou seja, o número de óbitos ponderando pelo número de habitantes.
“Salta aos olhos a diferença na taxa de mortalidade quando comparadas as regiões menos desenvolvidas com as regiões mais desenvolvidas, sobretudo entre jovens e adultos”, diz um dos autores da nota, o economista e pesquisador do Ipea, Pedro Miranda. “É necessário que se dê uma atenção maior e que se investigue mais por que essas taxas são diferentes”, acrescenta.
De acordo com os dados analisados pelo Ipea, até meados de junho, 6.735 pessoas morreram em decorrência da Covid-19 no Rio de Janeiro. Deste total, mais de 45% das pessoas eram residentes de bairros menos desenvolvidos da cidade. Esses locais concentravam cerca de 35% dos casos confirmados da doença.
Já nos bairros mais ricos, estavam aproximadamente 34% dos casos confirmados, porcentagem semelhante à encontrada nos bairros mais pobres. A porcentagem de mortes, no entanto, é inferior, 21,6% dos óbitos foram registradas entre os moradores dessas áreas.
Essas diferenças, de acordo com o Ipea, podem estar relacionadas ao menor acesso aos serviços de saúde nas áreas menos desenvolvidas e à maior exposição ao risco da população residente nessas áreas. Além disso, o Ipea chama atenção também para a menor testagem da população residente em áreas menos desenvolvidas quando comparada com a população residente em bairros nobres.
Bairros
Na pesquisa, os bairros foram divididos em cinco grupos de acordo com o Índice de Desenvolvimento Social (IDS), baseados nos dados do Censo Demográfico de 2010, último disponível. O IDS considera as condições de moradia, educação e renda, com informações sobre acesso a água, esgoto, coleta de lixo por serviço de limpeza, número de banheiros por morador, porcentagem de analfabetismo, rendimento médio do responsável pelo domicílio, porcentagem de domicílios com rendimento do responsável de até dois salários mínimos, e porcentagem dos domicílios com rendimento do responsável igual ou maior que dez salários mínimos.
Barra da Tijuca, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico, Ipanema e Tijuca, estão entre os bairros com maior IDS, considerados, portanto, mais desenvolvidos. No outro extremo, com o menor IDS, estão bairros como Maré, Rocinha, Complexo do Alemão, Caju, Mangueira e Jacarezinho.
O Ipea aponta para a necessidade de mais dados, de maior transparência e de um olhar para a desigualdade socioeconômica. Segundo Miranda, os pesquisadores encontraram limitações nas informações disponíveis, como a ausência de dados de renda nos sistemas de notificação da Covid-19. “A gente tem frisado muito a importância que a gente tenha disponível, para os pesquisadores de forma geral, informação organizada, precisa, transparente. Para que a gente possa continuar fazendo as pesquisas e possa auxiliar de maneira adequada o poder público a elaborar estratégias de combate enfrentamento da pandemia e a lidar com os efeitos dela”, diz.
Pesquisa
O Ipea considerou, na análise, os dados produzidos pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, disponibilizados pelo Instituto Pereira Passos (IPP), com data de notificação até 13 de junho de 2020. No Rio de Janeiro, o IPP tem disponibilizado diariamente as informações relativas ao município individualizadas, desidentificadas, que permitem fazer uma análise preliminar por bairros de residência das pessoas infectadas. A amostra é composta, no total, por 43.148 casos confirmados e Covid-19 e 6.735 óbitos, considerando apenas os registros de residentes no município do Rio de Janeiro.
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