Publicado em 08/10/2020 às 11h52.

Preso em Salvador há quase 8 meses sem funcionar, Le Cirque teme fechar de vez

"Ou abre as portas e funciona ou o circo se acaba de vez", disse funcionária da atração que vem passando dificuldades na pandemia

Bianca Andrade
Foto: Instargam/ Le Cirque Brasil
Foto: Instargam/ Le Cirque Brasil

 

Há quase 8 meses a charanga não toca a noite inteira, nem tem brincadeira, muito menos picadeiro e qualidade. Presos em Salvador desde o início da pandemia da Covid-19, o Le Cirque teme que a doença junto a falta de atenção das autoridades consiga colocar um fim definitivo na magia circense.

“Ou abre as portas e funciona ou o circo se acaba de vez, porque ninguém consegue suportar tanto tempo, com famílias que depende de você, sua própria família, sem nenhuma renda. Estamos em um momento muito crítico, muito difícil, sem saber o que fazer”, afirma Patrícia Amorim, funcionária da atração em entrevista ao bahia.ba.

Criado na França pelos irmãos Stevanovic, descendentes de Saltimbancos, o Le Cirque está estacionado na Av. Paralela desde antes do dia 13 de março, data da primeira apresentação do espetáculo Xtreme, e até o momento continua sem saber como será o futuro.

Por viver da renda da bilheteria, o circo ainda não conseguiu estimar em R$ o valor do prejuízo já que os ingressos variam entre R$ 20 e R$ 100, porém o empreendimento vem perdendo o aluguel de veículos por não ter condições de cumprir com o que era estabelecido na época que o circo funcionava. A expectativa era de retornar no Dia das Crianças, mas o funcionamento não foi autorizado pela Prefeitura.

Em conversa com o bahia.ba, a funcionária Patrícia Amorim, que há 30 anos abandonou o emprego em uma locadora de carros no Sul do país para “fugir” e viver do circo, contou que a situação vem sendo difícil para os funcionários e artistas. “Dia 16 vão fazer 8 meses que a gente tá sem nenhuma renda, sem nenhuma atividade e tá muito difícil. Contamos com uma colaboração de amigos solidários que lembraram do circo, porém as autoridades nos deixaram totalmente esquecidos”.

Um apelo nas redes sociais e uma matéria feita pela TV Aratu conseguiu fazer com que o circo fosse pauta na Câmara de Vereadores, mas a previsão de retorno ainda continua longe. “Não fazia sentido tudo abrindo em Salvador, e o circo que tem uma estrutura interna grande que possibilita o distanciamento, não funcionar”, pontua a funcionária que usou como exemplo a liberação dos cinemas e teatros e garantiu que o circo tem todos os protocolos de segurança exigido pela Prefeitura e Ministério da Saúde para funcionar.

O Le Cirque, que chegou a fazer uma live, ainda tentou aderir à modalidade drive-in e modificou todo interior da estrutura para receber os carros, mas não teve o projeto aprovado pela Prefeitura. Com isso os cerca de 70 colaboradores, entre funcionários e artistas, que não conseguiram um novo emprego nem foram aprovados para o auxílio do Governo Federal, tentam sobreviver com a venda lanches típicos e produzir máscaras.

Apaixonada pela vida de circo, Patrícia, que criou os 3 filhos dentro dessa realidade e não consegue se ver vivendo de outra forma que não seja como nômade acompanhando o circo, teme que uma das sequelas da pandemia seja o sucateamento da arte. “Embora o circo seja uma arte milenar, ele faz parte da diversão e diversão é considerado supérfluo, então estamos realmente com muito medo do que pode acontecer, mas temos fé que o circo viva e que a gente consiga trabalhar o mais rápido possível”.

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