Morte de mulheres negras avança 54% em dez anos
Estudo do Mapa da Violência 2015 foi considerado inovador pela ONU Mulheres Brasil
Em um ano, morreram assassinadas 66,7% mais mulheres negras do que brancas no Brasil. Essa é uma das conclusões do Mapa da Violência 2015, que será divulgado nesta segunda-feira pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), e que, nesta edição, foca na violência de gênero no País.
O estudo foi considerado inovador pela representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, ao revelar a “combinação cruel” que se estabelece entre racismo e sexismo: em uma década (a pesquisa abarca o período de 2003 a 2013), os feminicídios contra negras aumentaram 54%, ao passo que o índice de mortes violentas de mulheres brancas diminuiu 9,8%.
No total, em 2013, 4.762 mulheres foram assassinadas no País, posicionando-o no quinto lugar no mundo – só está melhor que El Salvador, Colômbia, Guatemala e Federação Russa. Foram 13 homicídios femininos por dia: uma mulher morta a cada 1h50min. É o equivalente a exterminar todas as mulheres em 12 municípios do porte de Borá (SP) ou Serra da Saudade (MG), que têm menos de 400 habitantes do sexo feminino.
“As mulheres negras estão expostas à violência direta, que lhes vitima fatalmente nas relações afetivas, e indireta, àquela que atinge seus filhos e pessoas próximas. É uma realidade diária, marcada por trajetórias e situações muito duras e que elas enfrentam, na maioria das vezes, sozinhas”, diz Nadine.
Os dados, julga ela, denunciam uma “bárbara faceta do racismo”, sendo urgente acelerar respostas institucionais concretas em favor das mulheres negras. O Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20, motivou a escolha do mês de lançamento da pesquisa.
O Mapa da Violência conclui que a população negra é vítima prioritária da violência homicida no Brasil, enquanto as taxas de feminicídio contra a população branca tendem, historicamente, a cair. Em uma década, o índice de vitimização das negras – cálculo que resulta da relação entre as taxas de mortalidade de ambas as raças – cresceu 190,9% em todo o País, número que ultrapassa os 300% em alguns Estados, como Amapá, Pará e Pernambuco.
Diferenças entre Estados – Os Estados com maiores taxas de feminicídio de negras são Espírito Santo, Acre e Goiás. O número de mulheres negras assassinadas só diminuiu em Rondônia e em São Paulo. Nem a Lei Maria da Penha, que entrou em vigor em 2006, foi capaz de encolher a estatística. Depois da promulgação da lei, apenas cinco Estados registraram queda nas taxas.
A vitimização das mulheres negras veio em uma escalada íngreme entre 2003 e 2012, mas sofreu queda em 2013. Ainda é cedo para comemorar, no entanto. Conforme os procedimentos metodológicos do Mapa da Violência, esse aspecto só se configura como real tendência se houver três anos consecutivos de diminuição.
Servidora pública e membro do coletivo Pretas Candangas, de Brasília, Daniela Luciana ressalta que há um tipo de violência contra a mulher negra que não pode ser mensurada em números: a simbólica.
“Somos violentadas desde a hora em que acordamos até a hora de dormir, por conta do estereótipo, da invisibilidade e da pouca presença em espaços de poder”, afirma Daniela. O grupo organiza para o dia 18, na capital federal, a Marcha das Mulheres Negras, pelo fim da violência contra a mulher.
Ambiente doméstico – O Mapa da Violência revela, ainda, que 55% dos crimes de violência de gênero no Brasil foram cometidos no ambiente doméstico – e que 33,2% dos homicidas eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas. Isso significa que, a cada 10 mulheres com mais de 18 anos, quatro foram mortas pelos companheiros ou ex-companheiros, que usaram, com maior prevalência, força física ou objeto cortante. As armas de fogo são mais comuns nos assassinatos de homens.
“A violência contra a mulher é um problema de saúde pública, que ocorre em diversas regiões do País e do mundo. Divulgar dados e estudos sobre esse tema ajuda a compreender a dimensão do problema e pôr fim a esta prática”, afirma o representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) no Brasil, Joaquín Molina.
Mais notícias
-
Brasil
20h00 de 19 de abril de 2024
Governo propõe a servidores da educação reajuste de 9% em 2025
Sindicato classificou proposta de "irrisória e decepcionante"
-
Brasil
17h37 de 19 de abril de 2024
‘Cometa do Diabo’ ficará visível no Brasil neste domingo; veja horário
Corpo celeste poderá ser visto com uso de binóculo e telescópio
-
Brasil
15h47 de 19 de abril de 2024
Três em cada dez brasileiros buscam aprender com a cultura indígena, aponta estudo
Para Edmar Bulla, fundador do Grupo Croma e idealizador do estudo, o cenário atual dos povos originários é triste e preocupante
-
Brasil
14h52 de 19 de abril de 2024
Brasil regula abate e processamento de animais para mercado religioso
Diário Oficial detalha procedimentos exigidos pelo governo
-
Brasil
13h19 de 19 de abril de 2024
Rodovias federais terão pontos de descanso para motoristas
Instalações com infraestrutura serão obrigatórias a partir de 2025
-
Brasil
22h00 de 18 de abril de 2024
Acumulada novamente, Mega-Sena terá prêmio de R$ 100 milhões
Números sorteados foram: 16 - 17 - 42 - 45 - 52 - 57
-
Brasil
21h40 de 18 de abril de 2024
Mulher que se diz sobrinha era prima de homem levado morto ao banco, informa polícia
Irmã da acusada presa presta depoimento e diz que idoso cuidava do próprio dinheiro e cartões de créditos
-
Brasil
21h20 de 18 de abril de 2024
Justiça derruba resolução do CFM que proíbe procedimento pré-aborto
Para juíza, conselho não têm competência para restringir aborto legal
-
Brasil
20h00 de 18 de abril de 2024
Mulher que levou morto a banco tem prisão convertida em preventiva
Funcionários suspeitaram de tentativa de resgate de empréstimo
-
Brasil
18h22 de 18 de abril de 2024
Número de denúncias de violência contra idosos cresce em 2024
Entre os abusos, estão maus tratos e violência patrimonial