Publicado em 28/04/2020 às 11h48.

Jornal garante na Justiça direito de obter laudos de exame de Bolsonaro

Reportagem do Estado de S. Paulo tentou obter informações acerca dos testes de coronavírus feitos pelo presidente; Planalto se negou a fornecê-los

Redação
Imagem: Reprodução/TV Brasil
Imagem: Reprodução/TV Brasil

O jornal O Estado de S. Paulo garantiu na Justiça Federal o direito de obter os testes de Covid-19 feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A decisão, publicada na segunda-feira (27), é da juíza Ana Lúcia Petri Betto.

Em seu despacho, a magistrada determina que, em até 48h, a União forneça “os laudos de todos os exames” feitos pelo presidente para identificar a infecção ou não pelo novo coronavírus.

Bolsonaro já disse que o resultado dos exames deu negativo, mas se recusou até hoje a divulgá-los.

“No atual momento de pandemia que assola não só Brasil, mas o mundo inteiro, os fundamentos da República não podem ser negligenciados, em especial quanto aos deveres de informação e transparência. Repise-se que ‘todo poder emana do povo’ (art. 1º, parágrafo único, da CF/88), de modo que os mandantes do poder têm o direito de serem informados quanto ao real estado de saúde do representante eleito”, observou a juíza, ao atender ao pedido feito pelo O Estado de S. Paulo.

“Portanto, sob qualquer ângulo que se analise a questão, a recusa no fornecimento dos laudos dos exames é ilegítima, devendo prevalecer a transparência e o direito de acesso à informação pública”, concluiu Ana Lúcia.

Antes mesmo de ser oficialmente notificada, a Advocacia-Geral da União (AGU) enviou à Justiça Federal de São Paulo uma manifestação em que se opõe à divulgação do resultado do exame de Bolsonaro. Em seis páginas, a AGU diz que o pedido deve ser negado, sob a alegação de que a “intimidade e a privacidade são direitos individuais”.

Depois de questionar sucessivas vezes o Palácio do Planalto e o próprio presidente sobre a divulgação do resultado do exame, o jornal entrou com ação na Justiça na qual aponta “cerceamento à população do acesso à informação de interesse público”, que culmina na “censura à plena liberdade de informação jornalística”.

Bolsonaro fez o teste para detectar o novo coronavírus nos dias 12 e 17 de março, após voltar de missão oficial nos Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Donald Trump. Nas duas ocasiões, Bolsonaro informou, via redes sociais, que os testes deram negativo para a doença, mas não exibiu cópia dos resultados.

Pelo menos 23 pessoas que o acompanharam no país norte-americano foram diagnosticadas posteriormente com a doença. Entre eles, auxiliares próximos, como o secretário de Comunicação Social da Presidência da República, Fabio Wajngarten, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.

Bolsonaro disse no mês passado que poderia fazer um novo teste para saber se contraiu o vírus. “Fiz dois testes, talvez faça mais um até, talvez, porque sou uma pessoa que tem contato com muita gente. Recebo orientação médica”, afirmou ele ao deixar o Palácio da Alvorada no dia 20 de março.

 

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