Publicado em 07/03/2016 às 18h36.

Pré-candidata em Salvador, Alice pode ser queimada por ‘fogo amigo’

Sob argumentação de reunir requisitos ideais - mulher, negra, pobre e ex-vereadora - articulação defende a substituição de deputada pela ex-vereadora Olívia Santana

Ivana Braga
Fotos: Roberto Viana/ Ag. Haack/ bahia.ba
Fotos: Roberto Viana/ Ag. Haack/ bahia.ba

 

A deputada federal Alice Portugal (PCdoB) sonha, e não esconde isso de ninguém, em ocupar o trono do Palácio Thomé de Souza. Por duas vezes lançou sua pre-candidatura à prefeitura de Salvador. Em ambas, abriu mão do seu projeto para fortalecer o do PT, sob a alegação de que a união das forças era a melhor arma para a conquista do objetivo. Nas duas vezes, o PT perdeu as eleições, mas Alice não perdeu seu sonho.

Na conjuntura atual do PT, atolado em denúncias de envolvimento na corrupção da Petrobras e abalado pela crise política e econômica que esfacela a saúde financeira do país, o momento seria favorável à parlamentar comunista, muito próxima de ver realizado seu desejo de, se não sentar na cadeira máxima do Executivo municipal, pelo menos chegar a ser candidata.

Em vez disso, ela pode estar prestes a ser queimada pelo chamado “fogo amigo”, segundo fontes petistas que revelaram ao bahia.ba que, diante da recusa do senador Walter Pinheiro em ser o candidato do partido para enfrentar o prefeito ACM Neto (DEM), o PT ficou meio que sem chão, perdido. Isso porque, avaliam os petistas, os nomes postos internamente – Juca Ferreira, Gilmar Santiago e Valmir Assunção – não são fortes o suficiente para garantir à legenda um embate em pé de igualdade.

Diante das dificuldades, a cúpula vermelha teria começado a trabalhar a possibilidade de compor uma chapa, possivelmente com o PCdoB, abrindo mão da cabeça. Pronto, era tudo o que Alice Portugal precisava, se não fosse a costura de uma articulação, supostamente alinhavada pelo ministro da Casa Civil e ex-governador Jaques Wagner, que coloca a deputada federal para escanteio e, em seu lugar, elege a secretária estadual de Políticas para as Mulheres, a ex-vereadora Olívia Santana, como a candidata do PCdoB para, junto com o PT, compor o time que disputaria as eleições de outubro.

Conforme a tese defendida pelo suposto idealizador da manobra, Olívia teria o perfil ideal para ir para o embate com ACM Neto. Mulher, negra, nascida em Salvador, filha de empregada doméstica e pai marceneiro e três mandatos como vereadora, requisitos que lhe conferem potencial, embora tenha obtido na capital baiana, no último pleito que concorreu para a Assembleia Legislativa, menos votos do que Yulo Oiticica.

Questionada sobre a sua disposição de abrir mão da pré-candidatura em favor da colega de partido, a deputada Alice Portugal demonstrou não ter conhecimento do fato e não conseguiu esconder sua surpresa. “Não estou sabendo de nada disso. Estive com ela [Olívia] e ela não comentou nada comigo”, falou a comunista, ao acrescentar que acha difícil que o seu partido volte atrás em relação ao seu nome, já referendado pelas direções nacional e estadual do PCdoB. Mas a congressista reconhece que, em política, o difícil nem sempre é impossível.

O presidente da sigla na Bahia, deputado Daniel Almeida, corrobora as informações da colega de Parlamento. Disse desconhecer a articulação e garante que o partido fechou com Alice. “Não estou sabendo de nada disso. Se há qualquer coisa neste sentido, ninguém conversou comigo. A pré-candidata do PCdoB é Alice”, assegura Almeida, ao desconversar sobre a disposição da legenda em rever a posição, caso seja procurada pela cúpula do PT.

Já o presidente estadual petista, Everaldo Anunciação, admite que há algo nesse sentido e afirma, inclusive, que a tese tem ganhado forças entre os partidos de oposição ao prefeito de Salvador, mas nega que seja fruto de uma articulação idealizada ou comandada por Wagner. A reportagem do bahia.ba tentou, por diversas vezes, ouvir a secretária Olívia Santana, mas não obteve sucesso.

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